O trabalho das mulheres no contexto atual

Raphael Calixto
Assessoria de Comunicação PUC Minas

Na tarde desta terça-feira, 5 de março, a PUC Carreiras, Central de Serviços de Carreiras da Universidade, reuniu quatro professoras e pesquisadoras para discutir o trabalho das mulheres no contexto contemporâneo com estudantes de diferentes cursos de graduação no auditório 3, prédio 43, Campus Coração Eucarístico.

A atividade, segundo a diretora da Central, Profa. Dra. Evanilde Martins, tem como objetivo contribuir para a formação consciente dos alunos da PUC Minas. “Essa roda de mulheres, um jeito tradicional de pensarmos sobre nossos problemas, pode nos ajudar a propor possibilidades e avançar em soluções no futuro”, afirmou a docente, que também mediou o debate.

A escolha pelo tema, ainda de acordo com a professora, se justifica pela carga simbólica e cultural ocupada pelo trabalho na sociedade. “Para nós, mulheres, quando se fala em trabalho vem a carga, o peso, o cansaço, mas também o lado da realização, construção de identidade, satisfação, conquistas”, enumerou ao explicar que o ambiente corporativo e empresarial tem se tornado um ambiente social importante para as mulheres, propiciado, em parte, pelo aumento da força de trabalho feminina em vários setores econômicos e na produção, a partir do final do século XX.

Citando a vencedora do Nobel de Economia em 2023, a pesquisadora estadunidense Claudia Goldin, a professora Evanilde pontuou que esse crescimento da participação das mulheres não foi linear e nem progressivo. “Há variações na curva de inserção do mercado de trabalho e não se deu da mesma forma em todas as áreas”, disse.

Discriminação e invisibilidade

As diferenças de tratamento entre homens e mulheres também foram abordadas pela diretora da Central de Carreiras. “As mulheres têm menos oportunidades de ascensão a cargos de liderança e, por isso, também têm salários mais baixos”, argumentou. O pensamento da historiadora Mary Del Priore, que defende o letramento como estratégico para a libertação feminina no Brasil, também foi lembrado pela docente. “Esse trabalho que discrimina, também segrega, porque nos deu a inclusão, mas não nos deu voz, voto e nem poder de decisão”, disse.

A Profa. Dra. Cristiana Leite Carvalho, do Departamento de Odontologia do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC Minas (ICBS), apresentou dados sobre a sua área de pesquisa: o mercado de trabalho na Saúde. “Apesar de ter um aumento da participação feminina nos últimos anos, mesmo ocupando cargos semelhantes, as mulheres ainda ganham menos em todas as 14 categorias profissionais da Saúde, uma média de 77% do que o homem ganha”, declarou, informando que as mulheres compõem 75% da força de trabalho da área no país.

A professora Cristiana também destacou que, considerando a interseccionalidade de raça, cor e etnia, as mulheres pretas são mais desfavorecidas em todas as categorias profissionais de nível técnico ou superior, reproduzindo um padrão observado no mercado inteiro.

Evasão e precarização

Segundo Cristiana, atualmente o macro setor Saúde representa 10% da força de trabalho na economia brasileira, um contingente de cerca de 6 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, mas as mulheres ainda são minoria nos cargos de gestão, chefia e coordenação. Para a docente, ter mulheres nesses cargos, como a atual ministra da Saúde Nísia Trindade, ajudaria a pautar políticas públicas que levassem em conta as peculiaridades e desafios do mercado.

“A última reforma trabalhista impactou demais, as mulheres que não têm um trabalho protegido têm mais dificuldade na maternidade e têm que se retirar do mercado e às vezes não conseguem voltar mais ou têm que buscar piores remunerações”, argumentou ao elucidar que o trabalho informal vem crescendo muito na área da saúde.

A questão do assédio foi apontada pela pesquisadora como uma das principais razões de evasão multiprofissional na Saúde. “Ficamos muito espantadas que nas residências um número muito grande das evasões era devido ao assédio, principalmente de mulheres gestantes”, informou ao complementar que a residência médica geralmente acontece no mesmo período em que é provável que as mulheres engravidem, abandonando a profissionalização e o projeto de carreira profissional.

Maternidade e tecnologia

A Profa. Dra. Maria Augusta Vieira Nelson, que idealizou e coordenou o Curso de Engenharia de Software do Instituto de Ciências Exatas e Informática da PUC Minas (Icei), atualmente atua na área de tecnologia como gerente técnica de programas no Google e compartilhou sua experiência com a maternidade e a carreira acadêmica. “Esse período de maternidade e da gente trabalhar fora de casa é um período difícil. Primeiro, eu escolhia as disciplinas que podia lecionar à noite porque eu revezava o cuidado com o meu marido”, contou.

Ao analisar a estrutura da empresa que trabalha, que atualmente tem 20% de funcionárias mulheres, Maria Augusta reconhece que suas alunas sempre reportaram que a computação é um ambiente árido. “No Google tem muitas mulheres diretoras e presidentes, e dentro do meu departamento tem 50 mulheres ocupando cargos de liderança. Então, qual é a importância disso? Quando tem uma mulher liderando ela traz outras mulheres, ela quer a rede de apoio dela, ela reconhece a competência das outras mulheres, ela se identifica com a trajetória das outras mulheres”, refletiu.

A coordenadora dos Cursos Comunicação, Diversidade e Inclusão nas Organizações e Gestão de Diversidade e Inclusão nas Organizações do Instituto de Educação Continuada da PUC Minas (IEC), Profa. Dra. Letícia Alves Lins, que pesquisou na pós-graduação como as temáticas de gênero foram acionadas em campanhas publicitárias desde o início dos anos 2000, fez um balanço de sua trajetória como empreendedora na área de consultoria especializada em estratégias de equidade. “Fazemos, por exemplo, um programa de capacitação de multiplicadores contra assédio. Fazemos, por exemplo, um programa para pensar o porquê de mulheres não alcançarem a liderança”, citou a docente que tem como principal projeto deixar um mundo menos desigual para a sua filha.

Confira a gravação do evento no canal da PUC Carreiras no YouTube.