Jornada continuada: o desafio das mulheres na conciliação entre maternidade e carreira

por Rayssa Duarte

Na última quarta-feira, 12 de março, a PUC Carreiras promoveu um importante evento em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, realizado no prédio 47 do Campus Coração Eucarístico.

O evento consistiu em uma Roda de Conversa que reuniu um grupo de mulheres de destaque em suas áreas, com o objetivo de refletir sobre temas fundamentais como maternidade, mercado de trabalho e a valorização da mulher na sociedade atual.

Participaram do debate quatro mulheres incríveis, cujas histórias e trajetórias inspiraram e enriqueceram a conversa. Entre elas, esteve a pós-doutora em Internacionalização, Trabalho e Sustentabilidade pela Universidade de Brasília (UnB) e professora da PUC Minas, Maria Cecília Máximo Teodoro, a desenvolvedora de software e aluna da pós-graduação em Arquitetura de Software da PUC Minas, Érika Soares e a psicóloga Victória Chagas, egressa da PUC Minas.

Elas compartilharam experiências pessoais e profissionais que evidenciam os desafios enfrentados pelas mulheres na sociedade moderna, especialmente no que diz respeito à conciliação entre a maternidade e a carreira.

Antes de iniciar o debate, apresentamos um vídeo produzido pela PUC Carreiras com a participação da comunidade acadêmica da PUC Minas, com depoimentos de alunos e alunas da universidade. A pergunta central desse vídeo foi: “Você acredita que ter filhos impacta a profissional?” A resposta predominante foi que, sim, a maternidade impacta significativamente a vida profissional da mulher, com muitos ressaltando que esse impacto é muito maior para as mulheres do que para os homens.

Evidenciando ainda mais a relevância da discussão sobre o tema, uma vez que mostrou o quanto a sociedade ainda carrega de preconceitos e estigmas relacionados à figura feminina, especialmente no ambiente profissional. Como constatou a desenvolvedora de software, Érika Soares: “Trabalho desde os meus 18 na área de Sistemas de Informação é muito perceptível a diferença de tratamento que as mulheres têm em comparação com os homens, principalmente nesse meio profissional que ainda é, predominantemente masculino.”

Ao longo da Roda de Conversa, as participantes nos convidaram a refletir sobre os desafios que as mulheres enfrentam ao precisar equilibrar as exigências de sua carreira com as responsabilidades familiares, especialmente a maternidade. A professora Maria Cecília, por exemplo, descreveu essa realidade como uma “jornada continuada”, destacando a exaustão e o desgaste de tentar lidar com múltiplas responsabilidades cotidianas.

Para ela, é praticamente impossível para uma mulher conciliar tantas atribuições sem um apoio adequado. Ela ressaltou que, muitas vezes, as mulheres se veem em uma rotina dupla, na qual são responsáveis tanto pelo cuidado da casa e dos filhos quanto pelo sucesso de suas carreiras profissionais.

O DESAFIO DE CONCILIAR TRABALHO E FAMÍLIA
Um momento que me chamou particularmente a atenção durante a conversa foi quando a professora Maria Cecília fez uma provocação ao público presente, questionando qual palavra vinha à mente de cada um quando pensava em “homem” e em “mulher”.

Quando ela perguntou sobre “homem”, ninguém presente mencionou a palavra “pai”, enquanto, ao se referir à mulher, a palavra mais comum foi “mãe”.

Essa diferença de percepção é um reflexo claro da naturalização dos papéis de gênero na sociedade atual. A ideia de que a mulher é a “única responsável direta” pela criação dos filhos ainda predomina, o que leva a sociedade a ver a maternidade como um dever quase exclusivo das mulheres, como afirmou a psicóloga Victória Chagas: “Você ter que articular o tempo todo ser mãe com ser profissional é um peso, mas é um peso carregado pela mulher”.

A professora Maria Cecília reforçou essa realidade ao afirmar: “Desde sempre as mulheres são forjadas para a maternidade e os homens são forjados para o desempenho.” Essa fala, profunda e reveladora, levanta uma reflexão importante sobre como a sociedade molda expectativas de gênero desde a infância, condicionando meninas a se prepararem para serem mães e meninos a se prepararem para serem provedores.

“Já ouvi muitos relatos de colegas que se tornaram mãe, e o que eu mais ouço é que a vida profissional da mulher estagna depois da maternidade.”, completa Érika Soares, enfatizando ainda mais essa realidade.

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O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE
Além da reflexão sobre os papéis de gênero, as palestrantes também destacaram a importância de discutir a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. A professora Maria Cecília, ao abordar essa questão, trouxe uma análise sobre a discrepância salarial entre homens e mulheres. Segundo ela: “As mulheres são mais qualificadas, mais estudadas, mas os homens são mais bem remunerados, ganhando, em média, cerca de 27% a mais que as mulheres.”

Esse dado reflete uma realidade alarmante, que ainda precisa ser urgentemente confrontada. A desigualdade salarial entre homens e mulheres é um problema estrutural que não apenas limita as possibilidades de crescimento profissional das mulheres, mas também, reflete a falta de valorização do trabalho feminino.

Elas também chamaram a atenção para a questão da interseccionalidade, ou seja, a forma como a desigualdade de gênero se cruza com outras formas de discriminação, como raça e etnia.

Um ponto crucial do debate foi a ênfase nas palavras da professora Maria Cecília: “A história da luta feminina é uma história que deve levar consigo os homens, porque o Feminismo não liberta só as mulheres, liberta também os homens.” Essa frase reflete um aspecto muitas vezes negligenciado na luta pela igualdade de gênero: o fato de que a luta pelo feminismo também beneficia os homens.

Por fim, é importante ressaltar que o evento proporcionou não apenas uma reflexão profunda sobre a situação das mulheres na sociedade e no mercado de trabalho, mas também gerou uma discussão muito construtiva e necessária, onde várias pessoas presentes contaram sobre suas experiências pessoais e profissionais deixando o debate ainda mais enriquecedor.

A quebra de estereótipos de gênero, a promoção de um ambiente mais justo e igualitário, é fundamental para que possamos viver em uma sociedade melhor e mais justa para todos.

Por fim, é importante ressaltar que o evento proporcionou não apenas uma reflexão profunda sobre a situação das mulheres na sociedade e no mercado de trabalho, mas também gerou um debate construtivo e necessário.

Não deixe de conferir e refletir sobre essas questões que, infelizmente, ainda permeiam nosso cotidiano.

A gravação completa do evento está disponível em nosso canal no YouTube.